Gosto de Lisboa, muito.
Gosto de encontrar e parar para ler os grafittis, que se declaram em paredes e muros com critério.
Gosto da ideia de imaginar que alguém se deu ao trabalho de escolher o lugar onde pinta e escreve o que sente.
Gosto da ideia de realizar que alguém leva tinta ou giz e declama paredes fora o que lhe vai na alma.
Gosto de ideia de apanhar essa boleia e levar comigo o que alguém sentiu.
Podem ser mensagens sem retorno, anónimas ou assinadas, alegres e desesperadas.
Que falem de esperança e encontro, que falem de caminhos com curvas.
Que falem de amor e cerejas, que falem da importancia de abrirmos os olhos.
Ou que sejam citações famosas em assumido plágio.
Seja como for e o que for, está escrito e prantado sem contagem dos dias, ali, em paredes e recantos que são de todos nós, e falam sem voz.
Pinta-se a vida em instantes nas paredes e muros de Lisboa, para quem os quiser apanhar.
Eu, não lhes resisto, e gosto quase sempre do que me faz parar.
Assim está Lisboa nos dias que correm, cada vez mais bonita e enfeitada.
Maquilhada com sentir, em frases que se guardam...
Tinha um sonho, vem do meu imaginário, na memória da minha Querida Mãe Guingas na sua época aurea.
O meu Avô ofereceu-lhe com legitimidade e bom senso um casaco a 3 /4 em pele de leopardo. Lindo.
Ela usava-o destemidamente com tudo e para tudo nos anos 60 e 70 e 80.
Lembro-me bem dela com o seu cabelo forte e carinha sempre a rir, vestida neste casaco.
Ficou.
Um dia vitima das tendências da moda, pegou no casaco e transformou-o num blusão versão anos 90 com cabedal preto a rematar…. um horror.
O casaco tal como era ficou para sempre pendurado num cabide da minha memória.
Este ano, por acaso ou não, vejo o casaco como era o dela, numa loja.
Perdi-me nele, perdi a cabeça e avanço com o cartão de crédito, decidi:
Eu ia cumprir o meu sonho, deixar de o ter pendurado num cabide da minha memória.
Comprei-me um presente de Natal.
Sem complexos, sem culpas, só porque sim.
Tive de partilhar com as pessoas que mais gosto, como se a pedir aplauso e aprovação para o meu atrevimento. Nem todos foram capazes de entender que aquilo não era um capricho material, mas sim a liberdade de herdar e cumprir um sonho antigo.
Existem cabides destes na minha vida, na minha cabeça, e no meu coração.
A capacidade de cumprir sonhos torna a vida mais interessante. Assim penso, assim sinto, assim vejo.
O meu maior contentamento foi constatar que amigas minhas que se lembram da minha Mãe como eu, depressa entenderam a ligação. Quero isto dizer que valeu a pena.
Agora resta-me vestir-me nele e dançar a vida.
obs- Importante acrescentar que o mesmo é não é verdadeira pele de leopardo, nos dias que correm não seria possivel para mim, é uma imitação, sim, mas com dignidade e pinta.
O Mar tem estado bravissimo.
Em turbulência constante e por isso ameaçadora.
Inquieto e imprevisivel.
Agitado sem dar tréguas.
Sem poder consigo próprio.
Sem controlo.
E ai de quem se atreva a enfrentá-lo.
Sai lesionado para sempre, seguramente.
Destruiu casas, e bares, e paredes e não parece ter medo de nada nem de ninguém. Tal é a sua zanga.
As leis da Natureza são para levar á letra. Respeito impõem-se.
É preciso que hajam tempestades para bonanças vindouras.
Inquieteção, para calmaria.
Desordem para a ordem.
Euforia para o sossego.
Estive no mar nestes ultimos dias.
Salvei-me com a minha propria boia, a nadar e a respirar contra a corrente.
Cheguei a terra e fiz-me gente.
Estive como o Mar, agora estou em Terra, apaziguada.
Em bonança, a descansar.
Talvez inspirado em mim, ou o contrário, o Mar também amainou.
Agora só cheira a maresia..e a Lua está contente.
Naqueles tempos a vida vestiu-se de espanto.
Tempos que chegaram sem aviso, como um presente que prometia futuro.
Os dias vividos assim foram de alegria e enorme encontro.
Tudo estava no lugar, tudo simples, tudo digno, a par e passo.
A vida embalada em Amor.
Sem que o espanto se quebrasse, a realidade das coisas que não são essenciais, fez-se notar e plantou no caminho dos dias a confusão e o assombro.
Os medos ocuparam lugar, sem medo.
Instalaram-se como se deles fosse o direito de assim ficarem a perturbar os dias, pintaram-nos de cinzento.
De vez em quando um arco iris deixava-se ver, para lembrar que a Vida continuava a ter cores.
Que o espanto da primeira vez continuava ali, a querer permanecer.
Mas já quase nada havia a fazer, porque a cegueira de um nevoeiro foi mais forte, com a força de uma teimosia, ou de um orgulho que se mascararam de defesa e ocuparam o caminho atancando-o de frente.
Não há treguas, porque não há abertura. Não houve espaço para a ternura de um abraço.
O Espanto ficou suspenso, está ali, continua ali, feito do milagre.
Somos feitos de nós e dos outros.
Somos feitos de nós para a liberdade das escolhas.
Estamos ligados. Em circulos viciados e virtuosos.
Nesta matéria estamos de acordo. Mas é importante regular a acidez. Porque afinal, as melhores soluções são básicas e as piores nunca são neutras.
Formulemos hipóteses, façamos experiências destemidas, tiremos conclusões para a escolha do caminho:
Sais de prata ou entras de ouro?
Bem vindo 2014.
A força de um calendário para a soma de dias novos, pejados de espanto porque só assim vale a pena ver a vida e vivê-la.
Um ano que quero de ouro.
Eu já escolhi e tu?
Os Milagres existem.
Os Milagres existem com a força com que acreditamos neles.
Não desistir é humano, faz parte da nossa essência, e essa força de acreditar sem fim, vem duma fonte inesgotável chamada AMOR.
É por isso que é inesgotável, é por isso que não tem fim.
O Amor é estar presente, numa gramática activa contagiante e multiplicadora.
Neste caso em que espero um milagre, também sei que não estou sozinha á espera que ele se revele.
A força de tanto querer, gera a força do ser.
Estamos juntos, estamos ligados.
Na ideia do Milagre, cabe toda a esperança do mundo.
A crença num milagre implica entrega, e humildade.
Acreditar que somos pequenos e frageis, perante um Céu Aberto, posiciona-nos para um canal possivel onde caberá tudo o que tem de ser.
Entregamos e aceitamos, e, deixamos a vida respirar atentos:
Aplaudir um milagre é dar sentido a tudo o que nos rodeia.
Porque afinal, todos os dias em que acordamos, temos a prova dum milagre.
Existem na Vida Coisas Inadiáveis.
Porque voam de um lugar para outro se não forem apanhadas..
Corre-se o risco de se perderem para sempre.
É por isso mesmo que não se adiam, vivem-se.
Uma borboleta é inadiável, o pingo de um gelado que cai ao chão é inadiável, um abraço no momento certo é inadiável, aquele olhar é inadiável, aquelas palavras eram inadiáveis…e isto são apenas alguns exemplos dos muitos que não se adiam.
Existe o vento que leva o que não é usado.
Somos feitos de instantes, como são as sensações que temos.
A vida é feita disso também: de uma colecção de momentos que formatamos em cromos e guardamos para sempre num almanaque sempre nosso.
O instante é agora.
Aquele encontro não podia ser adiado, por isso perdeu-se.
Pode ser que volte um outro, mas será diferente, por causa do tempo que passou.
A cada instante os corações do mundo batem, por isso não se adiam. Batem. E alimentam-se do que olhos, as mãos, as bocas, e tudo o resto dão. É assim.
Vamos crescendo a dizer sims. Vamos crescendo com uma intenção muito clara: agradar aos outros. Dizer sim porque não se é capaz de dizer não, é uma garantia de que os outros vão gostar mais de nós.
Dizemos que sim, porque dizer não é um risco para o qual não temos certificado de garantia do amor alheio. E assim cheios de sims que ás vezes são nãos, vamos fazendo o caminho.
Um dia crescemos mais, e percebemos que todos nós somos feitos de sims e de nãos, de vontades e desejos, de não vontades e de não desejos. O direito ao não é legitimo, é uma forma de dizer sim à fidelidade que temos de ter a nós próprios. Isto é obrigatário.
É por isso que acredito que muitos nãos pela verdade que trazem, são sims.
Se dizemos sim a tudo, mesmo contra a nossa vontade, vamos criar uma contabilidade injusta para nós e para os outros. A coragem de um NÃO tem lá dentro a liberdade de um SIM.
Se assim não for, os sims passam a sinais amorfos, sem vida, porque não têm diferença. São tudo em sinal de igual.
Sei que se digo um não ao meu filho,
este não firme e solido, representa a segurança de que não vale tudo, de que as coisas não sao mornas e são escolhas permanentes.
As ilusões e as espectativas criam-se por vezes baseadas nestes nãos mascarados de sims que nos levam ao engano. Dizer não é um sinal de respeito pelo outro e por nós.
Não é um desamor, é antes um amor mais verdadeiro.