Tinha um sonho, vem do meu imaginário, na memória da minha Querida Mãe Guingas na sua época aurea.
O meu Avô ofereceu-lhe com legitimidade e bom senso um casaco a 3 /4 em pele de leopardo. Lindo.
Ela usava-o destemidamente com tudo e para tudo nos anos 60 e 70 e 80.
Lembro-me bem dela com o seu cabelo forte e carinha sempre a rir, vestida neste casaco.
Ficou.
Um dia vitima das tendências da moda, pegou no casaco e transformou-o num blusão versão anos 90 com cabedal preto a rematar…. um horror.
O casaco tal como era ficou para sempre pendurado num cabide da minha memória.
Este ano, por acaso ou não, vejo o casaco como era o dela, numa loja.
Perdi-me nele, perdi a cabeça e avanço com o cartão de crédito, decidi:
Eu ia cumprir o meu sonho, deixar de o ter pendurado num cabide da minha memória.
Comprei-me um presente de Natal.
Sem complexos, sem culpas, só porque sim.
Tive de partilhar com as pessoas que mais gosto, como se a pedir aplauso e aprovação para o meu atrevimento. Nem todos foram capazes de entender que aquilo não era um capricho material, mas sim a liberdade de herdar e cumprir um sonho antigo.
Existem cabides destes na minha vida, na minha cabeça, e no meu coração.
A capacidade de cumprir sonhos torna a vida mais interessante. Assim penso, assim sinto, assim vejo.
O meu maior contentamento foi constatar que amigas minhas que se lembram da minha Mãe como eu, depressa entenderam a ligação. Quero isto dizer que valeu a pena.
Agora resta-me vestir-me nele e dançar a vida.
obs- Importante acrescentar que o mesmo é não é verdadeira pele de leopardo, nos dias que correm não seria possivel para mim, é uma imitação, sim, mas com dignidade e pinta.