sábado, 30 de abril de 2011

lugares de fora que ficam dentro.

Há lugares que nos fazem voltar sempre ao mesmo sitio, dentro de nós.
É como se fosse sempre a primeira vez, na descoberta confirmada das sensações que se revelam no verbo espantar.
Sempre que ali volto, percebo mais e mais, porque gosto tanto.
E talvez por isso de cada vez que sei que vou voltar, tudo em mim se prepara abertamente, para o que vou receber. Quando revejo a paisagem, que já é antiga em mim, no álbum de fotografias interno, surpreende-me a euforia, revelada em agradecimento que silenciosamente faço, pela beleza das coisas que se mostram a nós tão gratuitas, apenas porque existem assim.
O espanto hidrata, por via dos sentidos. 
Sinto-me viva, muito acordada naquela praia, naquele Alentejo que sempre confere, com a expectativa que levo sem medo. Aberta ao que sei, vou como num sonho. Volto sonhada, cheia e hidratada. Até que o tempo e as obrigações, me dêem tempo para outra vez voltar. 
Os sonhos, da realidade, são terras prometidas para  cultivar desejos à mão de semear.
As sementes são então desejos com certificado de garantia. 
Há momentos, paisagens, pessoas, cheiros, sons, e cores, que juro eternos, porque se reflectem em mim, e perpetuam-se sem fim.  Através deles sinto vida para sempre.  


sábado, 16 de abril de 2011

A MUSICA DESAGUA NA NASCENTE, ONDE O CORAÇÃO NUNCA ENVELHECE.

Tenho sorte. Gosto de musica. Gosto tanto que não vivo sem.
Penso, vivo e sonho musica. 
Traz alegria todos os dias aos meus dias.
A musica renasce-me. Porque me toca directo ao coração. Pode ser num genérico dum filme, num concerto de rock, na telefonia, ou no disco que escolho de propósito para aquele momento que invento. 
Admiro quem com 7 notas escreve e desenha harmonias de sons que contam uma história.
Porque, quando se trata de criar, uma história do que se sente está lá sempre.
Hoje pensava no alento que tenho em saber, que também a musica é infinita: pode não acabar nunca de se inventar. Pode não acabar nunca de se ouvir, até se querer. 

Apanho boleia da musica, e ponho-a dentro de mim.
Canto alto a inventar, e ás vezes não sei onde vou parar. 

Cargas do mesmo sinal também se atraiem:
Sei declaradamente que amo mais, quem ouve o mesmo que eu.

É tudo afinal uma questão de sintonia.

terça-feira, 5 de abril de 2011

CONFESSO QUE VIVI.

Pai, hoje é dia de festa.
Está um sol lindo de primavera.
Hoje ha reunião de primos, nem de propósito estarmos todos, e no meio dos assuntos a tratar vamos falar de si, seguramente.
Todos os dias, por qualquer razão conto ao Duarte coisas do Avô Quito. Ele tem um jeito nato para desenho, a professora até ja me disse que nessa área ele promete, exprime o que quer com um lápis, numa perspectiva correcta e impecável. Está sempre a ler coisas, tem um lado muito intelectual.Vem de si.
O Francisco Hipólito seu neto mais novo, faz jus ao nome e já anda, é um fução da vida, a querer descobrir o mundo com uma curiosidade sem limites que o levará longe.
O Vasquinho tem de si a sensibilidade e bravura. É lindo e tem voz de bagaço..A Madalena também gosta de desenho e está sempre a criar...tem um sentido de humor e ri com uma gargalhada do fundo, contagiante. Através deles, o Pai também está muito presente nos nossos dias.
São heranças assim que nos dão sentido ás saudades imensas, que vivemos aqui.
Estamos ligados, eu sei. Porque sinto.
E onde quer que o Pai esteja, a fazer acrobacias nas nuvens, sei também que zela por nós.
Um beijo sem fim.

sábado, 2 de abril de 2011

Tu és grande, e eu gosto muito de ti.



Está mais do que provado que o coração se oferece.



Voluntariar: É dar e voltar a dar, recebendo no que se dá.


Tinha um mês de ferias sem destino.
Olhava para o mapa do mundo buscando inspiração magnética.
Um dia chegou ao pé de mim: Vou para a India, disse-me.
Partiu esta semana. Meteu-se num avião rumo á India- Calcutá.
Foi daqui para lá, dar o seu tempo, as suas mãos, o seu coração, a sua alegria, a sua ternura. Tudo gratuito.
Dar de si, do que vem de lá de dentro.
Efeito multiplicador: numa equação lógica de que quanto mais se dá mais se recebe, só por se dar assim, a quem não se conhece, a quem nunca se viu, mas que precisa.
E isso basta.
Partiu no incerto:
 - Posso ter de fazer tudo, dizia-me: tratar de doentes, dar de comer, consolar quem está perdido, olhar nos olhos pelo alento, tocar e abraçar, dignificar o sofrimento alheio com alegria.
Dizia-lhe eu: olha bem para os olhos deles. Têm mesmo a alma espelhada.
Pedem tudo sem pedir, sem nada lhes ser devido, respeitando a tua capacidade e agradecendo na mesma.
Existe naquele povo uma liberdade muito grande. Porque existe na enorme miséria, em que tropeçamos constantemente, a noção de que a vida por si só é uma dádiva.
O respeito é a palavra de ordem neste país. Aceitação da vida como ela é. Numa humildade exemplar. Com uma espiritualidade que é a razão de todos os corações. E esperança lá dentro, que um dia na soma de todos os outros, as coisas vão ficar melhores.
Não vais voltar o mesmo. E ainda bem. E, eu fico a gostar ainda mais de ti.


Liçoes de vida aprendidas, liçoes de vida que nos caiem aos pés.
Cada viagem desejada é um coração (ou mais) que vai para o saco.
Um dia regressa-se com excesso de bagagem. Sem taxas.