sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O tempo do degrau atrás.


- Mãe, o passado o que é que interessa? O passado ja passou mesmo agora. 
  Está a ver, subimos as escadas e aquele degrau já é para trás por isso já é passado. Só interessa o agora 
  que é este degrau que estamos a subir, e os outros que ainda temos á frente. Não acha mãe? isto dos          
  degraus é para a Mãe perceber a historia do tempo.  

Eu que estava perplexa com esta conversa ia respondendo que sim....mas para concluir disse: 

- Duarte, o tempo é das unicas certezas que temos, é que ele está sempre a acontecer, e ainda bem. 
  Não podemos parar, a vida é andar para a frente. 



Não me lembro de lhe ter contado historias de fadas...até porque ele é rapaz. Mas sei que lhe disse muitas vezes que o mundo pode ter as cores que ele quizer. E sim á noite li-lhe os livros todos da Sophia...



40'S TORNA-NOS MAIS FORTES!

Nota de cabeçalho: 
A minha prima Rita fez ontem 40 anos. E porque gosto muito dela escrevi-lhe. Aqui fica.



Minha Querida Ritinha, 

Hoje é voçê. Hoje é o seu dia. Dia Grande. 
A vida para mim começou de certa forma aos 40. Saber o que sei hoje pelo preço do tempo que passa é não querer mesmo voltar para trás. 
Sei muito mais de mim como pessoa, sou mais eu, nas formas, nas palavras, nas atitudes, no assumir da vida. 
Perdi alguns medos, porque ganhei segurança. Aos 40 percebi que em tanta coisa o comando é nosso, percebi que sou livre para me ser em fidelidade, e quanto mais me sou mais respeito os outros na tolerancia das suas diferenças. É um caminho que se reabre na confirmação de nós, como se agora fosse mesmo para viver em pleno sem nada mais ter de provar de especial. 
Minha querida, continue a agarrar a vida como até aqui. A semear para colher sem nunca desistir. 
Voçê é uma ancora para nós que a temos por perto. 
Admiro-a muito nas suas convicções, nos principios e valores que em tanta coerencia e verdade leva e soma os seus dias. 
Esta viagem que a vida nos dá é uma maravilha, e os seus mistérios são para serem questionados só assim nos tornamos mais humanos porque mais pequenos também. Faz parte.
Existe o verbo ENTREGAR, o verbo Entregar pede isso mesmo: Entregar a uma maior dimensão aquilo que nos alegra e entristece. É um alivio usar este verbo! 
E, por isso minha querida Ritinha, aceite-se no que me menos gosta em si e ria-se. 
A vida aos 40 é também isso, não nos levarmos tão a sério, sabendo o que já sabemos de nós e sempre na contabilidade mais importante que é sentirmo-nos bem na nossa pele. 
Muitos Parabéns. Tudo de bom para si.
Um beijo grande desta sua prima que a adora
C

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O CINEMA QUE FOI PARAISO

O Cinema em S.Martinho era um acontecimento. 
Era a esperança de um programa á noite excitante onde podiam acontecer emoções. Porque era pequeno e controlado, e toda a gente se conhecia era-nos permitido ir. 
Então as minhas primas e eu faziamos toillete para ir ao cinema. 
Tinha cadeiras de pau arrumadas ordenadamente e um cheiro tipico a antigo, misturado com pevides. 
Era uma especie de Cinema Paraiso: pelo rudimentar das ferramentas que davam as tão esperadas imagens e os tãos inesperados sons. 
Era o Cinema Paraiso porque no seu exisitir prometia ilusões e vendia sonhos. 
Caia o pano e levantava o pano. Por trás da janelinha de onde saia um foco de luz havia mistérios, a bobine rodava e ouvia-se paralela á voz eterna da Elizabeth Taylor, mas nós descontávamos, contentes que estavamos com o coração aos pulos. 
Chamava-se  CINEMA SONORO para marcar bem a sua evolução fazendo juz ao nome, dos outros filmes mudos que ja tinham passado de moda. 
O Cinema foi destruido. Talvez para dar lugar a mais um prédio de apartamentos igual a tantos outros. 
Fica na minha memória para sempre. 

"encontrei isto...era a senha de saida para qualquer entrada sem data marcada. Cinema Sonoro talvez para marcar bem que os filmes tinham som contrariando os filmes mudos da epoca anterior...querido Cinema Paraiso!"












É MESMO PARA IR.




VAMOS LÁ.

"Apesar de longe ainda temos voz,
A estrada é difícil mas não estamos sós,
Em vez de ser eu, experimenta sermos nós,
Vamos lá...
Qual é o destino, que eu sonho inventar,
Não sabe o caminho, sabe começar,
Não fica sozinho e não vai ficar,
Vamos lá...
Vem, faz, tu já és quem tu queres ser,
livre desse medo de crescer,
sobe além do que podes ver, Vamos Lá...
Vem, faz, tu já és quem tu queres ser,
livre desse medo de crescer,
sobe além do que podes ver, Vamos Lá...
Vamos ter a vida que queremos viver,
Andamos à noite até amanhecer,
Temos de agarrar o que não queremos perder.
Vamos lá...
Qual é o destino, que eu sonho inventar,
Não sabe o caminho, sabe começar,
Não fica sozinho e não vai ficar,
Vamos lá...
Vem, faz, tu já és quem tu queres ser,
livre desse medo de crescer,
sobe além do que podes ver, Vamos Lá...
Vem, faz, tu já és quem tu queres ser,
livre desse medo de crescer,
sobe além do que podes ver, Vamos Lá...

Vamos Lá...
Vem, faz, tu já és quem tu queres ser,
livre desse medo de crescer,
sobe além do que podes ver, Vamos Lá...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Portugal em Monoculo


Esta é uma revista que eu prezo e respeito. Moderna, actual, bom design e com crédito.
Por isso numa altura em que o nosso pais anda em roda livre sem saber para onde vai e de onde vem, gosto que gratuitamente se reconheça vendo de fora, o efeito que nós portugueses e tudo o que de nós assim faz parte, tem no mundo e nos outros. 
É exactamente para verdades como esta que serve a aldeia global em que se diz que hoje vivemos..para aproximar e espalhar em bons portos, os bons motivos para se adorar Portugal. Obrigada à MONOCLE!

O Vento reflecte sim.

Uma exposição é uma revelação. 

É expormos aos outros aquilo que revelamos e que muita vez esta escondido em nós.

Deve ser por isso que imagino dificil esta mostra: a partilha do que se vê, como se pensa, e como se sente algum substantivo ou tempo do verbo no abecedário pessoal de cada um.

Ontem fui á primeira exposição de fotografia do meu amigo Quica. E gostei. 
Gostei das palavras que á entrada enquadravam em total coerencia as imagens nas paredes. 
Gostei das imagens a viverem sozinhas porque cada uma conta um momento grande e talvez irrepetivel.
Gostei dos titulos que dão legenda e corpo a cada imagem. 
Gostei do Quica calmo e sereno, sem mais nem menos. 

Obrigada Quica por te dares assim a nós que somos um bocadinho teus também. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Jardim da Estrela tem Estrela

OJardim da Estrela tem alma.
Tem um bocado de mim desde que me sei existir e até antes disso.
Quando nasci o meus pais foram viver para a Rua de S. Bernardo num prédio mesmo á frente de um dos portões do Jardim.
Ai passeei e brinquei em pequenina nas varias versões que a idade faculta e ensaia. Tenho fotografias que comprovam bem esses momentos...
O meu Pai muito vanguardista desde sempre, já ia correr para o jardim todos os dias, na altura, e estamos a falar de 1966,achavam as pessoas que por lá passavam, que ele era maluco...
Depois a vida deu voltas e interrompi o jardim no meu precurso.
Hoje em dia em Lisboa os jardins estão na moda. Passaram a ser locais de culto, onde as coisas acontecem e se vivem em pleno. São concertos no coreto, são eventos de marcas e lançamentos, são projecções de filmes durante o mes de Setembro na noites boas, são quiosques e cafes e baloiços e escorregas, e picnics, e mantas na relva prantadas ao Sol. E as pessoas vão e estão e vivem o jardim. Dá  gosto.
Muitas vezes vou passar tempo ao jardim com o Duarte. Levo revistas e ele uma bola. Fazemos disso um programa e voltamos para casa contentes.
Hoje em dia o jardim é também para mim um lugar de desporto. Todas as manhas gozo o previlégio de sair de casa a pé equipada e lá vou andar depressa em voltas continuas ao jardim para me fazer bem á saúde e aos musculos, á energia ao astral.
A fauna matinal do jardim é gloriosa, as pessoass passeiam bébés em carrinhos, outras passeiam os cães, um casal de chineses namora timidamente, os putos do liceu Pedro Nunes abancam no chão na palheta a curtir um furo, os repuxos de rega são incansáveis na sua missão e cheira a terra molhada, as arvores respiram, e eu corro e páro e contemplo. E gosto e sinto-me bem. Com vida.



quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Natureza invencivel nos codigos.


http://p3.publico.pt/cultura/exposicoes/4525/quanto-adn-cabe-num-so-rosto

Compromisso isso isso

Compromisso.
É mesmo isso. É querer (porque se acredita de livre vontade no assunto) estar agarrado a isso.
Comprometer ao contrario dum peso que pesa, é ser-se livre. Eu escolho que sim, ou eu escolho que não. Mas comprometo-me com a minha vontade. 
Quem não se compromete não é livre. Quem não se compromete tem medo do que isso possa trazer em prole das expectativas. 
O calendário dos dias e das projecções faz-se por uma questão de agulha com as suas vantagens. Se eu projecto um plano para uma data, posso começar a gozar desse plano com antecedencia. 
Comprometo-me a querer isso visto de longe. Mesmo que depois da hora chegar tudo isso possa mudar. 
Mas não é isso mesmo a vida? A capacidade de aceitar o imprevisto e de lhe dar a volta com razões pessoais ou pontuais?
Comprometer é escolher. Escolher é querer mais uma coisa do que outra. Sem medo. 
Compromisso não tem enguiço, pelo menos para mim. 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Drogaria 1





Coisas que nem por isso melhoram, mesmo que mudem.

O meu bairro é um bairro antigo de Lisboa. 
A condizer com isso preserva ainda algumas lojinhas que me lembro desde que de me lembro de mim. 


A drogaria do Sr. Fernando era um icon da Rua da Lapa. 
Chão de azulejos, balcão em madeira com desenhos arte nova, estrutura de prateleiras bem desenhadas com gavetas em baixo que guardavam mistérios. 

A vida do Sr. Fernado foi esta drogaria, sempre sempre igual de bata branca e oculos, era um homem muito digno, serio e trabalhador que fidelizava clientes, que arranjava sempre forma de tudo encontrar consoante as necessidades e caprichos dos seus clientes. 
Vendia ganchos, elastico e bandeletes, sonasol,  fio de cisal, agua rás, e pedra pomes, vassouras e detergentes, tintas e cera da abelha..

Um dia contava com 90 e muitos anos fechou a porta e deixou em mim a memória e o exemplo de uma vida entregue. 

Durante muitos meses ao passar na fachada encarnada com portas de ferro da drogaria, perguntava-me o que iria acontecer áquele lugar. Num sábado de manhã deparo-me com a loja aberta. A drogaria da minha vida estava transformada numa merceearia manhosa dum chinês. Fiquei em choque, entrei revi a matéria e tudo tinha sido transformado: o chão, os armários, as gavetas misteriosas, os produtos, o balcão... tudo se tinha eclipsado. Tudo estava transformado numa outra coisa muito diferente e em nada melhor.

O mundo está diferente. 
O mundo virou uma aldeia global como dizem no anuncio. 
Tem vantagens claro que sim, mas não vale tudo.