segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

S.M.P.

desse lugar guardo tudo o que achava ser meu, quando voava a acreditar que tinha o mundo aos pés, e nas maos de vez em quando...
o cheiro do nevoeiro que vinha com o mar, mas em nós a promessa fazia-se para cumprir: o dia vai abrir. descer a ladeira de manhã, era o acordar para a vida: numa corrida desenfreada até meio (depois de passar aquele casebre abandonado, onde viviam os nossos fantasmas) e depois a disfarçar, como se os medos não fossem connosco...
chegar á rua dos cafés, era um aperto bom no coração: quem estava, quem ia, quem vinha, para onde íamos?
irremediavelmente, acordar as alburquerques, naquela casa longe,  depois da estação, que cheirava sempre a cão..antes era a passagem pela casa dos torres pereira, aquele portão difícil de enfrentar, com medo de corar pelo bater do coração...aparecia a sofia, sempre a rir, tipica no andar e no ar..
a tarde e péssimas horas lá  avançávamos para a baia..o must era o barco dos tavares que fazia as nossas delicias..sorte de quem era escolhida. exactamente ás 13h em ponto, doesse a quem doesse iamos almoçar a casa: com cara de netos bem comportados, comer as refeições destinadas a preceito, cheias de vitaminas, com legumes do dia.
as tardes passavam devagar...tudo e nada acontecia.
Tinha dias que fazia gazeta. ficava a ler na  janela do quarto dos engomados, era de onde melhor se via a baía...escrevia linhas a fio no meu diario secreto: tudo o que sentia e pensava, tudo o que fazia parte de mim e dos outros..tudo o que via e imaginava.
nos outros dias iamos aos farois, a salir tudo era longe e tão perto. jogos de futebol, corridas de bicicleta, escaladas impensadas á praia da gralha..
os nossos meses eram sempre julho e setembro...agosto era sempre altura de intervalar..iamos para o algarve. voltávamos a S.Martinho, que nos esperava contente, cheias de novidades e roupas novas para mostrar..
quando começamos a sair á noite, o drama era a negociaçao das horas...o greenhill era um frisson. Mas antes antes ainda, era a chegada á noite depois de percorrida a ladeira, ao cimento. Passavamos ao lado de surra como se nada fosse. Directos a casa dos T.P., ponto de encontro e de lugar reservado para a carrinha que nos levava ao molhe para a foz..as noites eram magicas. Musica do melhor..noites inesqueciveis, na maior ingenuidade viviamos intensas paixoes, cheias de vergonhas, com o coraçao aos saltos..um dia deixei de ir. 


suspendi aquele lugar da minha vida, por escolhas outras..

voltar lá, tanto tempo depois foi saber que eu era eu...2010 voltas no carrossel. 
encontro quem nao sabia que sabia de mim. encontro tudo, quase tudo no lugar..sem nostalgias, sem tristezas, com a alegria do tempo que foi meu em memorias implacáveis..
servem as caras e os sorrisos para confirmar o que afinal (achava eu) havia esquecido.se voltasse a nascer, aquela é e será sempre a praia da minha infancia...ama-se sempre o que foi nosso.
p.s. esta fotografia é de setembro de 1935. o meu pai e tios nesta praia que por isso, habita a minha alma.

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